João César das Neves (vou resistir a elaborar trocadilhos que metam yetis pelo meio) assinou hoje outro dos seus deliciosamente delirantes artigos de opinião no Diário de Notícias. O tema: o Opus Dei e as suas ligações ao BCP – ou, melhor, à antiga administração do BCP, pois, graças a Deus, a brigada do cilício foi corrida. Ou correu-se a si mesma, atitude suicidária que, sendo uma boa notícia, não deixa de ser profundamente estúpida.
O título em si encerra todo um programa político: O Problema do Opus Dei. Afinal de contas, ou o Opus Dei tem um problema, no que a frase tem de literal; ou o Opus Dei tem um problema que advém da forma como é visto pelos que lhe são estranhos.
A frase de abertura do textículo, “O Opus Dei anda nas bocas do mundo”, não augura nada de bom. E basta ler o resto da prosa para se ficar com a ideia do que quer César (das Neves). Mas o que me choca é a aterradora conclusão que Neves tira acerca dos ateus (e eu não o sou): “Os ateus aceitam os cristãos pobres, como a madre Teresa”. Contraponho. Primeiro: os ateus comuns tendem a “aceitar” qualquer cidadão, seja cristão ou não. Segundo: A madre Teresa era tão pobre quanto eu sou chinês. Terceiro: há, pelo menos, um ateu que detesta a madre Teresa, Christopher Hitchens. Sei que me podem apontar uma contradição entre o primeiro e o terceiro argumentos, mas não se podem esquecer de que nem Hitchens é um ateu comum, nem a madre Teresa era pobre.
Outro aspecto a ter em conta no teXtículo de João – perdoem-me a alternância entre nomes, mas se o senhor assina com três, eu, para evitar repetições inestéticas, reservo-me o direito de ir alternando – é o erro que os religiosos apontaram a Dan Brown: a mistura, no mesmo texto, de correntes e conceitos distintos, com a intenção de chocar. Este sensacionalismo barato leva o professor a misturar, em pouco mais 4.000 caracteres, diferentes noções: prelatura, maçonaria, banca, cúria, evangelhos, dominicanos, jesuítas, Império Romano, cruzadas, Inquisição, Páscoa…
Ora, eu a isto chamo uma tremenda salganhada. O que vale é que não há almoços grátis.